A ESCOLHA DE CANTOS PARA A MISSA

Que a música tem um papel singular na liturgia cristã nós já sabemos. Mas isso vale para qualquer música? Em qualquer hora? Executada de qualquer jeito? Não! A música tem o seu lugar na liturgia e, para justificar esse lugar, é preciso que ela seja música litúrgica, isto é, composta para aquele fim.

O Concílio Vaticano II nos ensina que "a música sacra será tanto mais santa quanto mais intimamente estiver unida à ação litúrgica quer como expressão mais suave da oração, quer favorecendo a unanimidade, quer, enfim, dando maior solenidade aos ritos sagrados" (SC, n. 112). Cristo é a Palavra divina que se fez carne e habitou entre nós (cf. Jo 1,14), por isso a música litúrgica está sempre ligada à Palavra. E a música somada à palavra é canto. Assim, tratamos de PAGINAS canto na liturgia. Raramente - quase nunca - a liturgia admitirá uma música que seja apenas instrumental e não seja portadora da Palavra. A música litúrgica participa da dimensão sacramental da liturgia, é símbolo importante de Cristo e da Igreja, e não mero enfeite; é encarnação da Palavra, do diálogo entre Deus o seu povo, sua comunidade-Igreja reunida.


Canto litúrgico

Nem todo canto religioso é litúrgico. Há outras formas de canto religioso, como canto pastoral, ○ "evangelizashow" etc. Esses cantos, ainda que sejam religiosos, não são litúrgicos, porque não foram compostos com o objetivo de cultuar a Deus na liturgia cristã e naquele momento da liturgia.

A liturgia não admite maquiagens, por isso não possível adaptar uma música composta com outra finalidade e inseri-la na liturgia cristã, especialmente na liturgia da missa, que é o ponto mais alto do culto cristão.

O Concílio Vaticano II continua: "A tradição musical de toda a Igreja é um tesouro de inestimável valor, que sobressai entre todas as outras expressões de arte, sobretudo porque o canto sagrado, quando intimamente unido com o texto, constitui parte necessária ou integrante da liturgia solene" (SC, n 112).

O canto litúrgico é aquele composto exclusivamente para as celebrações. Seu fundamento é a própria celebração a que ele servirá, isto é, os textos bíblicos e as orações de cada sacramento, acompanhando cada parte ritual da celebração. Eles são mistagógicos isto é, conduzem a comunidade que celebra ao encontro com o mistério celebrado, com o Senhor ressuscitado. Ainda que qualquer pessoa possa compor um canto religioso, um canto litúrgico, por sua vez, necessita de alguém que conheça profundamente a Palavra de Deus, a liturgia e cada momento ritual, para que o canto exerça sua função de ser uma verdadeira e profunda catequese espiritual na celebração.


A música litúrgica deve ser:

1) Fácil e simples, não vulgar nem simplória;

2) Melódica, e não estridente nem pegajosa;

3) Diatônica e de estilo silábico, ou seja, cada sílaba corresponda à sua nota musical:

4) Clara no tom e no modo;

5) Evocação do mistério e da transcendência;

6) Um serviço à Palavra, cantando-a com clareza e aderência, fazendo-nos guardar a Palavra, e não a música ou o (a) cantor (a);

7) Penetrante e vivificante, revelando que a Palavra é viva;

8) Meditativa, levando-nos a aprofundar o seu texto;

9) Fiel à dinâmica do ano litúrgico nos seus diversos tempos e festas;

10) Fiel à dinâmica ritual dos sacramentos celebrados.

Na liturgia da missa, há dois tipos de canto: aquele que é o rito e aquele que acompanha rito.


O canto que é o rito

Há cantos na Eucaristia que são eles mesmos o rito. Eles constituem o rito que celebramos. A esses nós chamamos “ordinário cantado”, pois são aqueles que não devem faltar nas celebrações. São, por exemplo: o Kyrie, ou Senhor, tende piedade de nós; o Hino de louvor, cantado nos domingos e solenidades; ○ Salmo responsorial; a Profissão de fé, quando cantada; a própria Prece eucarística, cantada pelo presidente (diálogo inicial, prefácio, oração eucarística, doxologia final) com suas aclamações (diálogo inicial, santo, aclamação memorial, respostas da assembleia, amém final), cantadas pela assembleia, e o pai-nosso.

Esses exigem uma fidelidade absoluta aos textos litúrgicos, pois fazem parte da rica e longa tradição da lgreja e, como tal, expressam, com o canto, a fé da Igreja nesses dois milênios de existência.


O canto que acompanha o rito

Na missa, há cantos que acompanham um determinado rito: o canto de entrada, que não é a entrada, mas acompanha a procissão de entrada – ela é o rito; canto para aspersão, no ato penitencial; a aclamação ao Evangelho; a resposta as preces da comunidade, quando cantadas; o canto da apresentação das oferendas, que acompanha a apresentação das oferendas (que é o rito); ○ hino ao Cordeiro de Deus, que acompanha a fração do pão; e o canto de comunhão, que acompanha a procissão para a comunhão.

Para os cantos de entrada, apresentação das oferendas e comunhão, o missal, normalmente, sugere um versículo da Palavra de Deus, adequado para ser cantado. Contudo, nesses há maior liberdade para que os compositores, utilizando-se da poesia, componham suas letras, sempre, porém, inspiradas na Palavra de Deus. A aclamação ao Evangelho deve ser sempre o Aleluia, exceto durante o tempo da Quaresma. E o hino ao Cordeiro deve ser fiel à letra contida no missal, por sua fidelidade à Sagrada Tradição e à Sagrada Escritura.


Fidelidade e inspiração

As exigências e as recomendações da liturgia não recaem apenas e tão somente sobre as letras, mas também sobre as músicas que são compostas para a liturgia. Estas têm sempre que, nas suas variações possíveis, expressar ○ espírito da liturgia, o sentido daquilo que estamos celebrando. Por exemplo, um canto de entrada depressivo colocará toda a assembleia em espírito depressivo para o início da celebração. Não dá! Seria o mesmo um Ato penitencial ou um Cordeiro demasiadamente animados. O momento da celebração requer outro espírito.

Não apenas o momento da celebração inspira o canto e a música, mas também ○ tempo litúrgico: na Páscoa, os cantos devem ser mais festivos, alegres; já na Quaresma, mais introspectivos. O mesmo se diga do Natal e do Advento, com suas particularidades.


Passo a passo para preparar os cantos para uma celebração

Na equipe de celebração, reunindo, quanto possível, todos os ministérios envolvidos (presidência, leitores, cantores, acólitos, ministros da sagrada comunhão, ministério da acolhida...), percorra seguinte itinerário:

1º passo: Questionar-se quanto à natureza da celebração. É uma celebração matrimonial? Uma celebração penitencial? Ou uma celebração eucarística (missa)?

2° passo: Situar a celebração no tempo litúrgico. É Quaresma? Páscoa? Tempo Comum, Advento ou Natal? É festa do(a) padroeiro(a)? Missa votiva do Coração de Jesus? Ou uma súplica pela chuva?

3° passo: Ler, reler e rezar com a máxima atenção os textos bíblicos e eucológicos (orações e prefácio)

4° passo: Buscar, nos elencos de cantos disponíveis, as sugestões adequadas para aquela celebração, não pela facilidade ou pela comodidade - esse nós já sabemos! -, mas pela adequação, ou seja: este é ○ canto mais adequado para determinado momento da celebração? Nós podemos executá-lo de forma a ajudar nossa comunidade a cantar ○ mistério celebrado?

5° passo: Ensaiar bem as músicas, respeitando a inspiração do compositor, manifestada na melodia, na harmonia e no ritmo por ele composto.

6° passo: Antes da celebração, ensinar à assembleia ao menos os refrãos e ensaiá-la, de forma orante.

7° passo: Cantar com a comunidade, e não para ou no lugar da comunidade. O grande termômetro que nos diz se tal grupo de cantos é bom ou não, não é a sua capacidade de "fazer bonito", de "dar show", mas de ajudar a comunidade a cantar durante toda a celebração, do início ao fim.


PARA PARTILHAR EM GRUPO E AMPLIAR A REFLEXÃO

Na sua comunidade, quem canta?

Um grupo ou toda a comunidade?

O grupo tem consciência de que seu papel é ajudar a assembleia a cantar?

O que se canta? O mistério celebrado, a moda ou ○ gosto e a preferência dos músicos e do padre? O que falta para melhorar a qualidade musical das celebrações na sua comunidade?